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12 março

Liberdade

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De você ela já se libertou há muito tempo. Demorou a perceber, mas foi naquele dia, em que vocês se olharam nos olhos pela última vez. Naquele dia, onde vocês concordaram que a vida seria melhor, se já não fizessem parte um do outro. Ela demorou a perceber, porque dói. Incomoda tanto, que machuca, fere, humilha. Mas passa. E como passa. 

Quando ela acabou com você, percebeu que uma parte de si mesma também não voltaria mais. A parte reclusa, temerosa, insegura e triste. A parte que tinha medo de conquistar o novo, pensando em um futuro no qual você seria infeliz. A parte que sofreu tanto com a sua própria personalidade, porque sabia, bem lá no fundo, que a passividade natural de ser ela mesma, a prejudicava. 


"Você me engana tão bem
Eu finjo que acredito
Eu gosto de mentir também
Eu só não admito"

E não venha ler isso, e pensar que não é culpa sua. Foi, e, é culpa sua. Porque em todas as vezes que você a humilhou por não ser do jeito que você queria, são lembradas. Todas as vezes que você a criticou sem intenções de fazê-la evoluir, são lembradas. Todas as vezes que você não a apoiou e a "aconselhou" a desistir dos seus sonhos, são lembradas. 

Lembradas e refletidas. 
Repensadas de forma amargurada. 
E certas de que, não é certo ter que passar por isso. 


"Sentir por não te conhecer
Deixar por não querer parar
Falar por não saber agir"

Você a feriu. Não fisicamente, entretanto, feriu. E essas feridas estão no seu processo final de cicatrização. E a versão dela que hoje lembra disso, sente pena de você. Sério, pena. Porque a ela, só amor. Não amor do outro, mas amor próprio. 

O medo de discutir, não existe mais. Hoje, ela quer falar. 
A autoestima está sendo trabalhada e cada conquista é um pouco mais especial. 
E felizmente você já não está por perto para ver isso.

Ao lado dela, só pessoas que a enxergam e valorizam o que veem, sem a necessidade de mudá-la para encaixá-la nos moldes. E isso não quer dizer que ela não quer mudanças. Todos os dias está lá, a mesma vontade de ser melhor, mas sem nunca deixar de ser ela. 

A melhor forma de viver é se libertar do nó que as pessoas fizeram em você. Demora um pouco para encontrar o caminho certo a se trilhar, mas a recompensa é a melhor parte... o momento em que finalmente é possível... ser.

Liberdade, rapaz. Liberdade. 

04 fevereiro

SETENTA E POUCOS CONTOS, CINCO ANOS E POUCO - Crítica Antonio Prata

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Idioma: Português
Editora: Companhia das Letras

ISBN-10: 8535927689
Edição: 1° / Ano: 2016 / Páginas: 232

Mais que qualquer escritor em atividade, Antonio Prata é cultor do gênero - consagrado por gigantes do porte de Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Nelson Rodrigues - que fincou raízes por aqui- a crônica. Pode ser um par de meias, uma semente de mexerica, uma noite maldormida, a compra de um par de óculos, a tentativa de fazer exercícios abdominais. Quanto mais trivial o ponto de partida, mais cheio de sabor é o texto, mais surpreendente é a capacidade de extrair sentido e lirismo da aparente banalidade. Trinta e poucos traz crônicas selecionadas pelo próprio autor a partir de sua coluna na Folha de S.Paulo. Um mosaico com os melhores textos do principal cronista do Brasil.

Vocês estão certos, “É pavê”, para se coçar e regozijar com a nobre missão que tivemos, de analisar e pontuar alguns - ou muitos - aspectos que saltam ao longo da obra de “Um escritor, um escritor!”. E seguindo a risca o ditado “Tal pai, tal filho”, não é exagero fazermos os mais diversos elogios ao filho de um dos maiores autores e dramaturgos do país, Mario Prata. E vale lembrar que tudo o que foi dito ao longo de meses como “Abril, maio, junho” são “Recordações” que podem lhe trazer muita felicidade. 

Trinta e Poucos narra, em acontecimentos cotidianos e peculiares da vida, o que o renomado autor Antonio Prata publicou durante cinco anos na Folha de São Paulo. Na visão do cronista, situações simples ganham esplendor e peculiaridade, fazendo com que os leitores não só se interessem por sua escrita, mas também sintam proximidade e afinidade em relação aos acontecimentos que ele narra.

A obra possui em torno 70 crônicas e diferentemente do seu livro “Nu, de botas” que abraça uma seleção muitas vezes cômica, e por vezes, aleatória, podemos dizer que Antonio nos apresenta a sua intimidade. Das impressões digitais, as meias que somem do nada, seguimos sua escrita - com alguns traços de ironia -, sobre fatos triviais ao longo das duzentos e vinte e seis páginas que completam o livro da Companhia das Letras.
[...] trinta e poucos. Ainda temos o vigor da juventude – o vigor necessário pra solar uma guitarra imaginária, pelo menos –, mas já deixamos pra trás o pudor da adolescência – pudor de contrariar as diretrizes do grupo, de não se encaixar na moldura da época. Até os vinte e nove você ainda tem esperanças de se tornar outra pessoa. Depois dos trinta, você simplesmente aceitar ser quem é, relaxa e goza. [...] p.68
Um dos pontos positivos está em torno da escrita leve e comum que o autor nos proporciona. Não existe nada de sobrenatural no que ele conta, e o fato de conseguirmos - muitas vezes - nos colocar em seu lugar e até imaginar um desfecho para cada situação, faz com que, a leitura se torne muito mais cativante e fluida, que pode ser finalizada em questão de poucas horas. 

Além disso, é extremamente curioso o fato do próprio autor ser o personagem principal do que narra, pois, além das experiências do seu dia a dia, podemos acompanhar seu diálogo com outros personagens. Como o caso de Daniel, seu filho ainda bebê, que nos emociona recebendo uma carta de seu pai. 
Mas acontecimentos extraordinários são raros, como a própria palavra extraordinário já diz, ai a vida passa e a gente não aproveitou. Pois hoje você me fez aproveitar a vida, Daniel, por isso resolvi te escrever, agradecendo. p. 221

Fazendo jus ao nome que está em sua capa, estamos submersos em crônicas divertidíssimas sobre essa fase da vida de Antonio e a forma como ele enxerga os acontecimentos ao seu redor. E todas seguem esse tom leve sobre a tal idade dos trinta e poucos. As gargalhadas não podem ser controladas e independente do lugar que você estiver, sugerimos cuidado, pois, muitas vezes eles saem involuntariamente e em tons muito altos. 

Contudo, mesmo sendo um livro tão alegre, Trinta e Poucos nos trás uma reflexão, principalmente em relação a forma como passamos a agir com o passar do tempo. Como você enxergará a vida aos trinta e poucos anos? Como irá lidar com as situações? E é dessa forma que ele segue, divertindo, chocando e fazendo com que o leitor reflita sobre tais acontecimentos. 

Observando os aspectos técnicos, podemos dizer que o que lemos está entre contos e textos literários muito bem equilibrados que proporcionam a leveza das histórias e a seriedade do factual - mesmo que esse seja narrado em nuances da sua própria vida. 

Textos que, de uma forma geral, não ultrapassam o limite de duas páginas, dão as crônicas o tom prático e direto que é fundamental aos periódicos. Também podemos citar os títulos curtos que se limitam à quatro palavras, reafirmando o caráter de destaque que o autor quer dar ao assunto principal tratado - assentado em cada relato. 

Antonio usa também de diversas referências como: Satisfaction dos Rolling Stones, Clark Kent e até mesmo, o famoso ator Sylvester Stallone, que são utilizadas de forma espontânea e contínua. Fazendo com que, o autor consiga tanto mostrar ligação com a sua vida, como também aproximar o leitor e ilustrar o raciocínio. 
Libera a Guitarrinha! [...] De uns tempos pra cá, deram pra chamar a firula de air guitar e existe, inclusive, o “Air Guitar World Championship” [...] quando os primeiros acordes de “Satisfaction” soam pelas caixas da festa [...]. p. 67
No final, percebemos que, todas as particularidades técnicas utilizadas pelo autor no desenvolvimento das crônicas, atuam reafirmando que suas obras caminham dentro de um tempo e espaço muito bem delineados e apresentados a quem o acompanha. 

Esse pode ser portanto, o livro que traduz da forma mais sincera a identidade e tudo que compõe a percepção do mundo de Antonio. E mesmo que seja extremamente difícil esperar, será um prazer aguardar outros cinco anos se o resultado final for uma obra com tanta qualidade e emoção. Livro mais do que recomendado!


10 setembro

#SETEMBROAMARELO Atenção e compreensão - A vida não é só uma campanha nas redes sociais!

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Ele era formado. De profissão, família e status. Dinheiro não lhe faltava, assim como amigos, pois estes, estavam ali para todas as horas. 
Era exemplo da família. Inspiração para os irmãos, motivo de orgulho para os pais. Prodígio! 
Tê-lo em casa era maravilhoso. Alegria, conversas animadas e muita felicidade. Que homem! 
Seu filho o amava, sua esposa faltava lhe idolatrar, e por onde ia, deixava histórias para contar. 
Que vida perfeita, que vida dos sonhos! Contudo, por que ele já não estava satisfeito com o que estava vivendo? 
Seria tamanha ingratidão querer mais do que tinha? Seria desvalorizar suas conquistas querer ir além? 
Deveria procurar ajuda? Melhor não, iria parecer drama demais. 
Um copo de cerveja e uma tarde no boteco foram os precursores do seu primeiro surto. "Surto mesmo, ou ele só está querendo aparecer?", logo questionou a vizinha. 
"Larga de bobeira, irmão! Você tem tudo, não precisa disso", o amigo aconselhou. 
"Você tá querendo encher a cabeça do seu pai né?", a irmã logo o acusou. 
E ele se culpou. Afinal, era culpado! A culpa era dele. Que não tinha Deus. Desorientado! 
Estava precisando trabalhar mais. Ou quem sabe de um coro depois de velho? Onde já se viu né? O primo de 12 anos não dava esse trabalho mais e um homem de 40 dando todo esse show. 
Deveria procurar ajuda? Melhor não, nem o primo caçula dava tanto problema.
Ora ora ora, onde estavam os seus amigos? Ele percebeu que sumiram. Já não era digno deles? Claro que não! Marmanjo que fica "brincando de depressivo" tinha que ficar sozinho mesmo. 
A esposa? O largou. Levou o filho também, que já não via ali um herói. 
Deveria procurar ajuda? Melhor não, pra quê? Nem o filho dele estava perto mais. 
Seus irmãos? Perderam a paciência. Cansados de tantos surtos, afastaram-se para não mais serem atingidos. 
Bem feito! Só lhe restava a solidão. Culpa dele que não valorizou o que tinha. Mas de repente não tinha nada. Então, por que ainda era preciso viver? 
Gilete
Faca
Garrafa
Remédio 
Drogas
Veneno
Ele tentou, mas nem se matar ele conseguia! Seria seu carma ali viver? Seria seu carma já não saber se controlar? Seria seu carma não saber quando outro surto iria chegar? 
Ajuda. Valia a pena procurar? Será que valia a pena?
Pois vivo em carne ele já sabia, que sua alma não mais existia, dentro do corpo daquele que um dia, carregou o posto de exemplo.

 

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